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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

CRUZEIRO DA FRANCESA



A propósito do cruzeiro da francesa, não sabemos se hoje ainda existe.
Sei que se situava na zona da Marzoba e me foi indicado quando eu era miudo, há cerda de 60 anos.
A história que me contavam meu avô e outras pessoas era que, na altura das invasões francesas e possivelmente na retirada para Alfaiates, a caminho de Espanha, um grupo de franceses entrou no Soito a fim de se abastecerem - roubando claro -, de comida para as pessoas e para os seus animais. Esses grupos de abastecimento chamavam-se os forrageiros (obtinham forragens) e normalmente não era grupo numeroso. Quando regressavam para o grosso das tropas, já no caminho de Alfaiates, foram emboscados e atacados por um grupo de guerrilheiros do Soito, que mataram uma francesa que os acompanhava.
Esta francesa seria uma vivandeira, ou seja, mulher que acompanhava as tropas e prestava assistência no tratamento de roupas e lhes vendia mantimentos. As vivandeiras obtinham mantimentos e bebidas porque participavam nos saques com os grupos de forrageiros.
Os mantimentos que assim obtinham, transportavam-nos em corroça e iam fazendo o seu negócio.
Após a morte da francesa, os franceses teriam voltado ao Soito, onde se vingaram na população e seus haveres.
No local onde foi morta a francesa, segundo me diziam, foi erigido um cruzeiro.
Atualmente existe um cruzeiro no antigo caminho de Alfaiates, que está muito bem conservado e que tem unicamente a inscrição da data de 1879. Parece muito posterior à úlima passagem dos franceses pelo Soito, que terá ocorrido no dia 3 de Abril de 1811.
Notemos que no livro "Memórias de Massena" escritas pelo francês General Koch, descrevendo a retirada dos franceses de Portugal em Abril de 1811, referindo-se ao dia 3 de Abril, diz:
"Às nove da manhã, Erskine, Slade e Picton (generais do exécito anglo-luso) puseram-se em marcha na direção dos montes que flanqueiam a estrada de Penamacor pela direita, e a sua marcha foi favorecida por cabeços arborizados e por um denso nevoeiro. Dentro em pouco, chegavam patrulhas da sua cavalaria ao caminho do Souto para Alfaiates, seguidas pela artilharia do 2º corpo, e deram caça a alguns condutores de trens. Reynier (general dos franceses) soube deste perigoso movimento às onze horas, pelos fugitivos, pois os dragões que deviam ter protegido o caminho não só se abstiveram de preveni-lo como nem sequer socorreram os assaltados."
Nesta data, o General Massena estava aquartelado em Alfaiates, onde esperava obter mantimentos para as tropas que ali se concentrariam para a retirada para Espanha. No dia 5 de Abril de 1811 todas as tropas francesas concentradas em Alfaites, começaram a retirada para Espanha.
Refere ainda o citado livro:
"Como a região entre o Sabugal, Val Morisco e Pega é densamente arbortizada, era dificil avaliar numericamente as tropas que Lord Wellington enviara para esses pontos, mas Reynier supunha que, com a sua habitual prudência, ele mantinha vários corpos escondidos em Val Morisco para apoiar aqueles cujos movimentos podia ver. Comunicou a Massena aquelas disposições de tropas, que lhe pareciam indicar um próximo ataque. Se não faltassem mantimentos na posição do Sabugal - dizia - proporia que esperássemos lá o inimigo e dirigissemos o 8º corpo para os montes de S. João, entre o Souto e o Sabugal, a fim de apoiar o 2º e impedir que o inimigo o contornasse atravessando o Côa a montante".
Penso que os montes de S. João que refere o General Koch será o cabeço de S. Gens entre o Soito, Quadrazais e Ozendo, que em francês se pronuncia como S. Jean.
A zona do Soito era muito importante para o exército francês pela sua riqueza em pastos, cereais e carnes de animais domésticos.
O Ti Carlos do Soito, diz que, no dia oito de Abril de 1811, foi morto o último soitense pelos franceses. Talvez alguns franceses que ficaram para trás ou talvez algum soitense que tivesse sido morto antes do dia 3 de Abril mas cujo corpo só foi encontrado no dia oito. 
Muito mais se poderia dizer mas fico à espera de outras contribuições para o desenvolvimento do tema.
 
Davide Vaz       

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