A história do João dos Namoros é contada, no livro "Memórias da Minha Terra", editado em 1985, escrito por José Manuel dos Santos Gomes, nascido em 1912. Diz ele que a história lhe foi contada quando era pequeno pelo seu avô e que este lhe referiu quem eram os pais do desafortunado rapaz que foi devorado pelos lobos quando, altas horas da noite, ia a caminho de Vila Boa para se encontrar com a namorada. Se eram conhecidos os pais do rapaz, a história seria recente. O cruzeiro que se encontra no principio do caminho que vai para S. Gregório será precisamente para lembrar esse fatal evento.
As fotos que apresentamos são retiradas do livro.
Leva-me a crer que a DEMOGRAFIA que o Fernando Carrilho nos apresenta no blog, poderá ajudar a deslindar a base desta lenda.
De facto, refere essa recolha do Fernando Carrilho que um dos falecidos no ano de 1903 foi
1903.07.01. José Augusto Pereira , de 28 anos ,( solteiro, ferrador) filho de José Pereira ,(ferrador) e de Joaquina Martins Antão; NB. Apareceu morto, às 4 horas da manhã, nas Teixugueiras, presumindo-se que fosse assassinado ;
Encontrado morto às 4 da manhã...Deve ter sido uma tragédia, que impressionou todo o povo. Nas Teixugueiras, precisamente a caminho de Vila Boa. Com sinais de ter sido assassinado. Rapaz solteiro. Com uma boa profissão: ferrador. Como é que foi encontrado às 4 da manhã e não às sete ou oito, quando as pessoas vão para o trabalho? Andaria o pai à sua procura?
Por outro lado, não parece possível que tendo havido ali um morto, não se colocasse um cruzeiro evocativo. Onde está o cruzeiro? Não conhecemos mais nenhum naquela zona a não ser o supostamente do João dos Namoros.
É possível que este José Augusto Pereira tivesse um namoro em Vila Boa, que seria contrariado e que essa aventura tivesse dado origem à sua morte.
Por outro lado, o que nos diz a história do José Augusto Pereira, encontrado morto nas Teixugueiras, precisamente na zona do cruzeiro do João dos Namoros, com sinais, apenas presumíveis, de ter sido assassinado, é que o homem estava inteiro, não apresentava sinais de ter sido comido por lobos.
Portanto, à data, não havia por ali uma matilha de lobos a atacar pessoas. Se houvesse, teria comido aquele cadáver.
Penso que as circunstâncias desta tragédia causou tal impressão no povo, que daí para a invenção da lenda do João dos Namoros, do qual o pai encontrou só os restos (os pés dentro das botas), foi um passo. E o que se pretenderia com a história de um apaixonado por mulher de fora, contra a vontade dos pais, seria fazer ressaltar o perigo que isso representava, semelhante ao perigo de ser comido por lobos.
Tudo isto indica que a história do João dos Namoros é uma lenda inventada pelo povo do Soito, com base na morte do José Augusto Pereira, no princípio do séc. XX.
Penso que esta poderia ser uma prova de que “quem conta um conto acrescenta um ponto”. A lenda do João dos Namoros pode realmente ter surgido pela morte do José Augusto Pereira, teria toda a lógica uma vez que os relatos dos acontecimentos são algo semelhantes, sobretudo no que se refere ao local onde o corpo foi encontrado. Posteriormente a história foi sofrendo alguns exageros e alterações, talvez para a tornar mais assustadora, ou mais “digna” de ser imortalizada.
ResponderEliminarA reflexão sobre o namorar fora e o perigo que isso acarretava, fazendo a comparação com lobos está muito boa. Todos nós ouvimos os nossos antepassados afirmar que antigamente não se viam “com bons olhos” os namoros fora da terra. Aliás, como muito bem sabemos, a ideia que passava, quando alguma rapariga namorava fora, era que os de fora já vinham roubar as moças da terra. Assim sendo, até provarem que mereciam a confiança e aceitação da população tinham que percorrer um bom caminho e superar muitas provações. Depois da aprovação conseguida e os perigos superados, ainda tinham que pagar a “patente” por “levar” uma rapariga da terra.
Lenda ou não, o certo é que ainda hoje se conta aos mais pequenos a história do João dos Namoros… Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e graças a Deus, também as mentalidades…lol
Não façamos confusão!!!!Os cruzeiros são diferentes como diferentes são as situações que os originaram. Pessoas que já morreram disseram-me que onde está,ou próximo, o cruzeiro das Teixugueiras foi morto um rapaz por causa de roubo de mel que se verificava nas colmeias ali existentes. Nunca saberemos se esta era a pessoa culpada ou se passou à hora errada. Nada tem a ver com o de João d'amores!
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